Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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sábado, 12 de novembro de 2011

ELIS REGINA, A DEUSA

Lamento muito quando algum jovem me diz que "não se liga" no trabalho da Elis Regina.  Lamento , francamente, não por ele - cada um opta pelo que quer ou acha melhor para si -, mas pelo fato de isto fazer parte do processo de empobrecimento cultural pelo qual o Brasil vem passando.  Embora não tenha a autoridade de um intelectual para falar no assunto,  venho desde os meados dos anos oitenta percebendo o declínio da cultura do país.
Fico com a impressão de que os militares, antes de saírem de cena, procuraram certificar-se de que a cultura nacional não produziria novos chicos buarques ou geraldos vandrés, de que o pensamento por aqui estava esmigalhado, aniquilado, incinerado e convertido em cinzas sopradas pelos chamados descartáveis da música surgidos na citada década.  Como se não bastasse o nada-dizer das letras daqueles artistas,  observei que as emissoras vinham tirando do ar os bons  programas jornalísticos, como o "Noventa Minutos", apresentando na Bandeirantes (hoje Band) por Paulo César Pereyo e Ana Maria Nascimento e Silva, e os programas de auditório totalmente desqualificados começaram a proliferar e a distribuir o sofrível e o ridículo para o consumo de um público que me pareceu acomodar-se e comprazer-se infinitamente com a nova situação.
Mas não vou ficar tratando do apequenamento da produção musical e da programação da mídia. Quero falar da Elis,   a miraculosa Elis, que cantava com o fundo da alma, trazia o fundo da alma à flor da pele, envolvia a gente, fazia-nos sentir as emoções colocadas nas letras das canções que cantava, porque Elis ardia em cantar, ora sofrendo, ora amando, ora transbordando alegria, mas ardendo, sempre ardendo em intensos sentimentos.  Era mesmo um fenômeno, porque, além de cantar com a alma, fazia-o também com uma voz de uma beleza rara, com uma técnica e um  poder de cantar tão singular, que mais parecia que alguma deusa cantava através daquela gauchinha  morta no ano em que  faria trinta e sete anos.   Que perda nós sofremos!
Elis era uma diva e gravou Ary Barroso, Mílton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, João Bosco e Aldir Blanc e outros compositores de primeira grandeza da MPB, o que tornou ainda mais esplendoroso o seu trabalho.  Uma pena uma grande parcela das novas gerações "não se ligar" nela e no seu repertório, que foi o que houve de mais rico - como a sua voz - no Brasil.  Muito embora tenha gravado algumas poucas músicas e autores comerciais que reneguei - apesar da sua  magia vocal -, tenho a impressão de que aquela verdadeira fada tenha chegado às raias da perfeição.
Já disse eu certa vez em uma poesia que "Deus levou Elis para cantar para ele", mas com muito mais propriedade o mestre Luiz Fernando Veríssimo fez à cantora uma crônica intitulada "A Voz do Brasil".  Todavia, com todo o respeito e reverência que merece o brilhante Veríssimo, o talento de Elis sempre esteve acima de qualquer coisa que o mais luminoso observador possa dizer sobre ela. 

2011

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