Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A DOMÉSTICA E A FAXINA

Um dia desses tive um pequeno aborrecimento que me deixou ainda mais incrédulo em relação às pessoas.  Contratei para fazer a manutenção de  minha casa  uma mulher gorda de voz e jeito austero, mas o mais curioso é que a doméstica tinha nas mãos umas compressas quentes que passava sempre sobre as sujeiras, mas removê-las que era  bom, nada! Até removia alguma coisa, mas apenas a sujeira superificial, a que ficava bem em cima e se via muito nitidamente, mas a sujeira  profunda permanecia  intocada.
- Minha senhora - ainda tentei ponderar -, olhe bem,  a senhora desde quando começou só fica passando esses panos quentes e removendo quase nada da sujeira...
Mas ela replicou de imediato, quase me interrompendo:
- Olha aqui! Eu estou aqui pra dar uma disfarçadinha! Não pra fazer uma limpeza pesada. Aquela coisa assim severa, não!
- Mas a senhora falou em faxina. - insisti.
Ela me olhou com o seu olhar grave:
- Olha aqui, você tá pensando o quê?  Você não vê que não consigo faxinar? Faria movimentos em falso.  Acabaria perdendo o apoio.
- Minha senhora - insisti -,  se a senhora falou faxina, tem de ser faxina!
- Às vezes - defendia-se ela - a gente solta assim uma palavra ao léu, e as pessoas vão logo grafando, grifando, marcando a ferro e fogo.
- Olhe, a senhora em matéria de limpeza se parece muito com o seu antecessor, seu Luiz, que também não limpava nada e, quando foi embora, me indicou os seus serviços.
A mulher tinha um tom arrogante:
- E por que você me escolheu?
- Ué?! Se não fosse a senhora, eu ia ter que ficar com aquele cara que tem mania de serrar tudo, aquele com cara de tucano...
A senhora se ergueu, colocou as costas das mãos na cintura e sentenciou, autoritária:
- Você quer fazer o favor de me deixar trabalhar sossegada?
Saí sem dar resposta e fui mexer no meu aparelho de som.  Tocava um CD que a faxineira trouxera, donde se ouvia um samba-canção na voz  de um cantor antigo, muito antigo.  Uma breve  pane no eletrônico me fez perguntar:
- Por medida de segurança, a senhora acharia conveniente trocar o CD?
Ela respondeu de pronto,  autoritária como sempre:
- Não! Deixa ficar o  Orlando Silva!

2011

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