Barão da Mata - Verdades e Diversidades

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quarta-feira, 28 de março de 2012

"A ÉTICA DO MERCADO" - MAS COMO AQUI TEM ÉTICA!

Muito gozada aquela declaração da funcionária da prestadora de serviços que caiu na pegadinha da Globo e declarou ao jornalista (pensando lidar com um gestor ou comprador público) que dar  ou receber  propina era " a ética do mercado".    Longe de mim querer execrá-la, porque esta não é proprietária, mas empregada de uma entidade privada cujos dirigentes apontar-lhe-iam cordialmente a  porta de saída caso a mulher se recusasse a oferecer ganhos ilícitos a servidores para a contratação da firma.  Estou no entanto perfeitamente ciente da possibilidade de ela gostar de fazer aquele papel, como sei que muitos na sua condição gostam de fazer aquele joguinho de leva-algum-e-compra.  "É a ética do mercado", como foi dito. Não é mentira, todos sabem muito bem disto.  Tudo é fruto da impunidade.  Todos sabem que onde não há punição existe um oba-oba generalizado.
O vício da propina é antigo.  Quando eu tinha vinte e um anos, em 1979, empreguei-me como pretenso vendedor (digo pretenso porque não vendia nada e tive carreira curta)  de uma fábrica de brindes e, após fechar verbalmente um pedido com um comprador de uma empresa, quando fui oficializar a venda através da assinatura do pedido, o sujeito me perguntou:
- Mas e a minha comissão?
- Comissão? - respondi indagando, inocente e inexperiente.
- Pois é, minha comissão, como fica?
Lá os pretensos fornecedores não tinham oferecido nada, e não é preciso dizer que não aconteceu venda nenhuma, tendo eu deixado de fechar o que seria o meu segundo pedido em mais ou menos três meses. 
Mas já tinha conhecimento, por comentários de outros vendedores, que alguns (não todos, mas alguns) entre os compradores recebiam "uma bolinha" (gostou da expressão?) costumeiramente.
Então, se aquele tipo de coisa acontecia em 1979, e eu nunca presenciei nem soube de uma punição por conta de tal praxe, imagine como o negócio funciona hoje.   Vou repetir o que os outros falam: "É assim mesmo, quem não é esperto não se dá bem."  É a "ética do mercado", não é?
Aqui no Brasil há muitas éticas, cada uma em seu setor.  Tem a ética do malandro, que não dá golpe em otário de outro malandro, a ética do traficante, que não vende drogas em território de outro traficante.  A ética do político corrupto, que não denuncia o colega igual (mas - risos - nem sempre é cumprida).  A do policial pilantra, que não entrega o parceiro, e vai por aí adiante.  São vícios, tudo é decorrente da impunidade. 
As leis versam contra propinas, mas criar ou aprovar leis sem mecanismos de fiscalização é uma grande hipocrisia, e o hábito da propina sai tão caro para a sociedade brasileira, que não sobra nada para investimentos em bens sociais.  Imagine se tudo o que se consome quanto a compras e contratações públicas custar dez por cento a mais: este percentual  dos impostos pagos vai para o bolso de vigaristas.  Significa que sua vida é dez por cento mais cara por causa deles.  Agora, se levarmos em conta os outros desvios praticados por gestores públicos desonestos e políticos ímprobos, ocorre a evasão de uma percentagem que a gente sequer consegue imaginar. 
Ou seja, o erário é lesado, o patrimônio público é subtraído, e nós, cidadãos (ou pretensos cidadãos) pagamos uma conta do que não nos retorna em bens, benefícios e serviços.  Só a ética dessa gente é o que é preservado. Ou melhor, as diversas éticas professadas por grupos iguais, semelhantes ou distintos, sejam eles malandros ou bandidos com cargo oficial, carteira assinada ou alojados na clandestinidade.

2012


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